Chegadas e partidas
Ivana Maria França de Negri
A vida é feita de chegadas e partidas. Alegres chegadas e tristes partidas. Algumas partidas guardam a expectativa da volta, e por isso mesmo, o coração fica repleto de esperanças com a promessa do reencontro.
Viagens há em que se ficam vários dias, ou mesmo anos. Mas sempre há o regresso e a felicidade de um novo encontro.
Mas existe uma partida certa, sem hora marcada, que todo ser vivo vai empreender um dia, mais cedo ou mais tarde. É a grande viagem para outra dimensão, aquela que tentamos adiar ao máximo, de todas as maneiras, e nem costumamos pensar ou falar dela para não atraí-la. Fingimos que nunca vai acontecer com a gente, só com os outros. Mas ela acontece para todos, sem exceção.
Nessa viagem, às vezes serena e outras turbulenta, é obrigatório deixar tudo para trás. Tudo o que foi conseguido em árduas lutas. Moradia, posição social, emprego, bens materiais, pessoas queridas, ficam nesta dimensão, até o corpo que “vestimos” será inutilizado, pulverizado em poucos anos após a partida.
A separação dos entes queridos é um momento doloroso, cheio de angústia e aflição. A falta da presença deixa um vazio profundo, impreenchível. A esse “vazio” damos o nome de saudade, sentimento forte e inexplicável. E é interessante como os laços afetivos não se desatam com essa passagem. Parece que ficam mais sólidos ainda.
Os que partem, deixando tudo para trás, ficam livres de todos os grilhões. Penso que passam a “enxergar” o que se passa por aqui como se estivéssemos num “Big Brother”. Podem nos ver, acompanhar nossos passos e ler nossos pensamentos. E devem ficar angustiados se nos encontrarem muito deprimidos, pois o amor não se desfaz com essa partida.
Quando se abandona o corpo grosseiro de carne, os sentidos se apuram e ampliam-se. Os que ficam não compreendem o porque dessa separação e por isso sofrem e lamentam por muito tempo, perdendo um tempo precioso de aprendizagem.
Comparo esta passagem pela Terra a uma corrida de revezamento. Muito veloz, mal começamos e já estamos na reta final. Na largada recebemos o bastão de filhos. Iniciamos a corrida ainda bebês e vamos crescendo tão depressa que nem percebemos, e logo nos passam o bastão de pais. Mais rapidamente ainda, na corrida de revezamento da vida, receberemos o bastão de avós. Se olharmos para trás veremos os que ainda estão no início da largada e, à frente, os que já estão perto da reta final.
Para terminar este meu momento reflexivo, aconselho que todos pensem nisso e de algum modo estejam preparados para essa grande transição. Não adianta fugir. Bom é viver cada momento como se fosse o último, ter uma vida equilibrada, fazer amigos, amar sempre e com muita intensidade, deixando de lado sentimentos mesquinhos como ódio, inveja, raiva, mágoa, arrogância. E perdoar sempre para ter a consciência tranquila e viver em paz. Assim, quando chegar a hora de empreendermos nossa derradeira viagem, é só...ir!
A vida transcende este corpo que envelhece e se desgasta, mas nossa essência continua mais vibrante ainda na outra dimensão. Deve-se encarar a vida como uma ótima oportunidade de aprender, progredir, servir e amar. Estamos só de passagem.
Ivana Maria França de Negri é escritora